Logo começamos a rir uma da cara da outra, é sempre assim. Vivemos implicando e brigando, mas eu sei que no final eu sempre posso contar com ela para qualquer coisa, minha irmã é uma das minhas melhores amigas.
_QUEM ALAGOU A CASA VENHA SECAR, AGORA!- O gentil grito da mamãe nos tira do nosso momento de irmandade.
_Ok, Lu. Acho melhor eu acabar de arrumar minhas coisas. – Ana me responde saindo na maior cara-de-pau. “É, acho que nem sempre eu posso contar com ela.” Penso comigo mesma enquanto corro para enxugar a casa antes que mamãe de o segundo berro.
_Desculpa mãe, me distrai falando com a Ana e esqueci que estava molhada da chuva.
_Limpe logo, antes que seu irmão acabe caindo.
_Ok – Limpo o mais rápido possível, Dona Isabel não é conhecida por sua paciência. Alias, ela era conhecida pelos seus três sinais, o primeiro era o verdadeiro grito ou a chamada de atenção, o segundo já não era mais um grito era um tom de voz um pouco mais alto e calmo, um aviso sutil que ela está começando a se irritar. Agora o terceiro ela só chama seu nome, com calma e em um tom de voz normal, quem não conhece pensa que esta tudo bem, a pobre alma nem sabe o tamanho da bronca que terá que enfrentar depois. Mas foi com esses três avisos que ela coordena duas creches.
Quando termino volto para meu quarto e me jogo na cama, coloco meus fones e começo a escutar “True Love”. Aos poucos começo a relaxar ao som das batidas de SOJA e fico vagando por pensamentos desconexos até que começo a visualizar a praia que eu estava mais cedo.
Só que dessa vez ela está cheia e eu estou sentada em uma das escadas que leva a areia da praia, consigo até sentir o calor do sol na minha pele. Estico-me para saborear um pouco esse momento, é muito difícil eu vir sozinha na praia quando o clima está bom assim, sempre vem minha família toda e o que era pra ser um prazer acaba se tornando uma obrigação.
De repente vejo uma garota correndo pela rua com toda força em direção a praia, ela é linda, mesmo com uma expressão tão agoniada no rosto, morena de cabelos cacheados e com lindos olhos negros. Ela para na escada a lado da minha e fica olhando o mar, parecendo pensar no que iria fazer agora. Começo a prestar atenção nas roupas dela e percebo que o que eu pensava ser um vestido é na verdade uma camisola branca com detalhes verdes, ela então se vira pra mim e sorri e percebo que ela está com meu colar, só que dessa vez a pedra está em um amarelo brilhante. Quando volto a encarar seu rosto percebo que essa garota na verdade sou eu, me assusto e antes que possa dizer alguma coisa ela se joga no rio.
Acordo ofegando e com uma sensação de afogamento, passo a mão no meu rosto e percebo que está molhado assim como meu cabelo e toda minha cama. Fico parada em choque, tentando raciocinar o que queria dizer tudo aquilo. Eu não poderia estar molhada desse jeito assim, deve ter alguma explicação.
_Tomou banho na cama foi Sis? – Ana me tirou do devaneio.
_Ana, eu to encharcada!
_ Eu percebi. – ela disse revirando os olhos.
_O único problema é que eu não tenho idéia de como fiquei assim. – respondi enquanto me levantava e começava a me secar, de novo, estou começando a achar que já tomei muito banho para um dia só.
_ Hum. – ela disse distraidamente olhando para um ponto atrás de mim. – Minha teoria é que você dormiu com a janela aberta e como está chovendo, conseqüentemente a chuva acabou molhando tudo.
Me virei e percebi que ela realmente tinha razão, a janela do quarto estava aberta e continuava a cair a mesma chuva da qual eu tinha fugido, com a diferença que agora ela estava mais fraca e o céu estava mais limpo, já conseguia ver algumas estrelas e até a lua cheia.
_Jurava que tinha fechado. –falei, sem deixar de me sentir aliviada por finalmente ter encontrado uma explicação lógica para isso.
_Bem aproveite que já estás molhada e termina logo esse banho pra gente poder ir à praça.
Peguei a toalha que ela me estendia e me dirigi para o banheiro, depois de tomar meu primeiro banho espontâneo do dia volto para o quarto e vejo que Ana ainda está lá, brincando com o colar.
_ Preparada para voltar às aulas Lu? – Ela me pergunta enquanto escolho minhas roupas.
_Sinceramente, não. – Respondo com uma careta.